domingo, 29 de março de 2009

A INVENÇÃO DA SINOPSE FEZ O SAMBA DANÇAR


“A primeira coisa que esculhambou o samba-enredo foi um negócio chamado sinopse, que é um produto do carnavalesco”. (Nelson Sargento, sambista)

A construção de um enredo de desfile de escola de samba nasce de uma idéia básica, e a partir dela algumas iniciativas são colocadas em práticas, a começar por uma pesquisa sobre o assunto nos mais diferentes aspectos e depois disso é hora de se fazer um resumo da história que se pretende contar.

Existem diversas formas para se apresentar uma sinopse com o objetivo de passar as informações desejadas para os primeiros grupos que vão desenvolver o enredo. Na Vale Samba, por exemplo, a opção, ultimamente, antes de se produzir o desenvolvimento do enredo, através de um memorial descritivo, é criar uma sinopse poética, a qual poderá, inclusive, ajudar muito os compositores lá na frente, na hora de comporem o samba.

A frase lapidar de Nelson Sargento, transcrita acima em negrito, foi garimpada por uma amiga jornalista, Rosana Pinto, ex-coordenadora técnica de carnaval da Liga das Escolas de Samba de São Paulo. Hoje em dia, entretanto, o conceito expresso por Nelson Sargento não faz mais sentido, mas a exemplo do que aconteceu com a Rosa, a observação me chamou a atenção, porque eu sou um “fazedor” de sinopse.

O samba-enredo hoje, na verdade, para o desencanto de tradicionalistas, não é mais o carro-chefe do desfile, perdendo o seu status para dezenas de outras “inventividades” que dão mais vida ao espetáculo, na visão do carnavalesco. Diante dessa realidade, e presas a um regulamento rígido, as escolas obrigam-se a seguir uma espécie de “mapa regulatório” para desenvolverem as suas apresentações, e para isso a sinopse é peça importante, e acaba prevalecendo até para a criação do samba de enredo.

Portanto, com o surgimento do desfile-espetáculo, iniciado com o advento da Sapucaí, e do fenômeno Joãozinho Trinta, o samba de enredo deixou de ser aquela bela poesia de cartola, que podia se arrastar sonoramente pela Avenida, para se tornar uma marcha, quase que tecno-eletrônica, que sai em desabalada carreira para que a escola possa cumprir as suas eternas juras ao Deus Cronos. E ai, às vezes, dá no que deu !

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